segunda-feira, 9 de julho de 2012





Em We need to talk about Kevin não existe pudor em empurrar o dedo contra a ferida
Numa sociedade em que é repudiada a possibilidade de uma mãe sentir ressentimento e ambivalência relativamente aos próprios filhos, surge a urgência em falar sobre o que não é permitido. É indispensável compreender o Kevin.

Baseado no romance homónimo de Lionel Shriver e fielmente transferido para a tela pela realizadora Lynne Ramsay (no argumento escrito em parceria com Rony Kinnear), a história apresenta o dia a dia de Eva (partindo do extraordinário desempenho de Tilda Swinton) uma mãe que vive num estado de permanente culpa face aos crimes perpetrados pelo filho adolescente, Kevin.
Deste quotidiano emergem as memórias ligadas ao desenvolvimento de Kevin resultando no trágico climax final: assistimos à gravidez alheada de Eva, ao pânico irritadiço e desesperado perante os choros insistentes do bébé, as frustradas tentativas de afecto e o culminar de uma relação insustentável dominada pela agressividade e desequilíbrio de forças.
É um filme que explora sobretudo, e de forma tão transparente como crua, a maternidade reconhecendo nela uma perigosa Caixa de Pandora. Em nós, observadores, incita o inquietante fantasma Freudiano da (in)competência materna na vida do sujeito. E se por si só, sem sombra de dúvida, Kevin é uma personagem detestável e irreverente (interpretado de forma amargamente realista nas diferentes idades por Ezra Miller, Jasper Newell e Rock Duer), que demonstra um comportamento atroz capaz de arrepiar o mais pachorrento e tolerante progenitor. Acaba por ser a figura hedionda que nos guia numa escalada de compaixão para com Eva. Esta no entanto distancia-se da clássica personagem heróica, sugando o espectador para a decadência apática e quase irrespirável do seu presente. O pecado de Eva (se o poderemos colocar nestes termos) foi apenas um, o da culpa.

Do começo ao fim somos esmagados por esta representação massiça dos afectos, enfatizados não só pelo uso hábil da cor (o constante vermelho) como pela plasticidade de planos acompanhados por uma alegre banda sonora (que por ser tão antagónica às imagens, parece seleccionada com o intuito do desconforto).
Ao contrário de tantos filmes que exploram a delinquência juvenil sob a perspectiva do perpetrador, We need to talk about Kevin explora os vínculos parentais, a forma como as relações poderão (ou não) contribuir para o desenvolvimento desequilibrado dos afectos. E enquanto espectadores chegamos ao final de mãos inexplicavelmente vazias, sem um motivo translúcido que some o(s) porquê(s) de tamanha crueldade.
Conclui-se que o próprio filme, como o romance de Shriver, não pretende descortinar as causas de um homicida, ao invés denuncia a Caixa de Pandora delegando-nos a responsabilidade de suturar os pontos. 

Uma encenação digna da mais vangloriosa e macabra vénia.











8 comentários:

  1. Que é do ventrículo esquerdo' E dos outros. Quantos ventrículos há?

    Era melhor que se chamassem Quadriculos. Para simplificar.

    Já cá venho. Vou por ordem.

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  2. quer-se dizer já não sei. se calhar sou um robô

    ou essa cena dos números e letras é para afugentar os chatos

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  3. Luis,
    no coração conto dois ventrículos, o esquerdo está comigo e o direito desbaratinou aqui. Ainda assim não vejo mal em quadrisimplificar o sistema ventricular. A cena dos números e letras é que, confesso, não percebi.

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  4. Experimenta comentar aqui. Os blogues acreditam que os robôs não são bons com letras e números.

    E com isso acabei por não consumi o resto conjunto. Desencorajo-me na inversa proporção com que me explico.

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  5. o eu que se justifica, justifica-se: e adonde está o esquerdo? (ventrículo)

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  6. foda-se esta merda de ter que provar q não sou maquinate e mais que não seja para me provar a mim, provo + 1 vez

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  7. A aprovação de comentários tem um efeito secundário. Um arrependimento descompassado.

    Fico a olhar com tanto espanto para as coisas que escrevi, que quase não acredito que tenha sido eu.

    As minhas desculpas pela falta de rodeios.

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